Espaço do Alê Batista


Avistando um Passarinho Verde (Pessoal)


Eu estava ali e iria para lá...
De repente, ela apareceu e também ficou ali; sabe-se lá para onde iria...
Mera coincidência, mas o fato é que acabamos indo juntos, porém separados.
Ela foi para trás e eu fiquei na frente.
Agora ela ficou ali...
Agora eu fiquei aqui...
De onde estávamos um podia ver o outro perfeitamente.
Não vi nenhuma convenção, portanto podia sim olhar para ela.
Não percebi nenhuma convenção, portanto podia mesmo até acabar gostando para valer de olhar para ela.
Sendo assim, por que não olhar para ela?
Sendo assim, por que não acabar até gostando de olhar para ela?
Enfim, passei mesmo a olhar para ela.
Enfim, passei mesmo, em certos intervalos, a olhar para ela.
Enfim, estava mesmo até gostando de olhar para ela.
Ela uma graça?
Como a culpa nunca é nossa, é sempre de outrem...
A culpa não era do meu interesse em olhar para ela, mas sim dela em atiçar meu interesse.
Afinal, nem tão por mim, mas foi ela que me chamou a atenção. E eu nem contava com isso...
Afinal, nem tão por mim, mas foi ela que me chamou a atenção por me ser uma graça. E eu nem contava com isso...
Afinal, nem tão por mim, mas foi ela que chamou a minha atenção. E eu nem contava com isso, mesmo sabendo que são coisas que podem acontecer a qualquer momento.
O momento era presente.
O momento era um presente.
O momento era o presente.
O presente é uma graça.
Aquele momento era um presente?
Aquele momento era uma graça?
Eu tinha certeza que, mais cedo ou mais tarde, o momento seria interrompido, pois eu iria para lá, enquanto ela sabe-se lá para onde iria.
Eu tinha certeza que, mais cedo ou mais tarde, o olhar seria interrompido, pois eu iria para lá, enquanto ela sabe-se lá para onde iria.
Eu tinha certeza que, mais cedo ou mais tarde, o que era presente seria mais um passado, pois eu iria para lá, enquanto ela sabe-se lá para onde iria.
Eu tinha certeza que, mais cedo ou mais tarde, o que podia ser presente seria mais um desencontro, pois eu iria para lá, enquanto ela sabe-se lá para onde iria.
Realmente ela foi primeiro...
Realmente eu fiquei mais um pouco...
E como era de se esperar, meu olhar a acompanhou até quando podia.
Ela nem olhou para mim.
Ou olhou, em certos intervalos, que eu não percebi.
Certos intervalos, responsáveis por certos desencontros de olhares?
Certos intervalos, merecedores de toda culpa de certos momentos presentes?


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Tenho certeza que nada sai da rotina, porém o dia muda...
Tenho certeza que retrato e espelho são os mesmos, por suas formas e reflexos...
Tenho certeza que não há nenhuma influência do tempo, sem prazo de validade estipulado...
Tenho certeza que a questão é mais simples do que se imagina, embora poucos ainda possam acreditar...
Tenho certeza que ela está mais bonita que nos outros dias.
 


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Tenho certeza que nada saiu da rotina...
Tenho certeza que retrato e espelho são os mesmos...
Tenho certeza que não houve nenhuma influência do tempo...
Tenho certeza que a questão é mais simples do que imagino...
Tenho certeza que ela está mais bonita que nos outros dias.


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Percebo com os olhos que outros não a veem
Penso o quanto dela eu admiro
Até anseio fazer o que ninguém pretende
A vaidade dela já percebeu meu olhar

Anima todo dia chegar o mesmo horário
Saudade de todo dia também vira rotina
Uma coisa simples transforma um dia inteiro
Vaidade que contém certa vontade

Às vezes um olhar dela vem, às vezes ela não deixa vir
Continuo a pensar o quanto dela eu admiro
Coisas simples transformam todos os meus dias
Eu fico esperando a vaidade passar

Esperar não reconheço como erro
A conquista é dos outros, minha é a ironia
O que conta chance, ilusão, vontade, esperança
Inglório mesmo é duelar com a vaidade


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Reta final de um passeio agradável...
Reta final de um passeio tranquilo...
Um dia para conhecer aspectos históricos da própria história do lugar que se vive, e que vem se apagando cada vez mais pela ignorância dos que têm o poder, ou pela ambição dos que querem o poder.
Um dia para conhecer pessoas que têm o objetivo de manter a história viva...
Um dia para conhecer o trabalho de organizações que mantém a história viva.
Um dia para fotografar a história...
Um dia para guardar fotografias memoráveis para o futuro.
Talvez um dia em que eu poderia ter olhado mais para os lados...
Talvez um dia em que eu poderia ter observado com mais tempo que eu era observado...
Na reta final daquele dia, daquele passeio, eu notei um olhar que vinha direto na minha direção, pois durante todo aquele dia foi ali mesmo em que eu ficara, completamente sozinho...
Logo, se eu tinha ficado ali todo o tempo, aquele olhar não poderia ter sido para mais ninguém, a não ser para mim mesmo.
Na reta final daquele dia, daquele passeio, depois de perceber o primeiro olhar direto na minha direção, passei a perceber que outros olhares vieram...
Na reta final daquele dia, daquele passeio, depois de perceber tantos olhares diretos na minha direção, passei a perceber o poder supremo e sublime que representa toda troca de olhares entre duas pessoas...
Troca de olhares: suas qualidades, suas seduções; sua intensidade, suas confusões...
Ou passei mesmo a sentir a surpresa de ser observado por um passarinho verde...
Na reta final daquele dia, daquele passeio, depois de perceber que outros olhares vieram, já não pude conter meus olhos, então todo o meu sentido foi canalizado para aquela atenção, na forma mais prática e tradicional de reciprocidade.
Na reta final daquele dia, daquele passeio, depois de ser tomado por um sentido bom, que enleva o espírito ou mesmo apraz o corpo e a alma, através daquela troca de olhares passei também a perceber a linha tênue do perigo que representa aprisionar um passarinho verde ou ser aprisionado por um.
A reta final, de onde se avista o fim...
E foi no fim que estrategicamente fiquei esperando pelo último momento, em que todos já haviam se levantado e saindo aos poucos, para então ela se levantar e, já quase passando totalmente por mim, virar meio que de lado para dar o último olhar...
E foi no fim, naquele último momento, que por um impulso eu disse um simples ¨tchau¨...
E foi no fim, naquele último momento, que ganhei dois presentes de uma única vez...
E foi no fim, naquele último momento, que ganhei dois presentes para serem guardados dentro do cofre da alma, a sete chaves, pela lembrança daqueles que vivem, reconhecem ou compreendem a representação de toda admiração, ou até mesmo toda paixão...
E foi no fim, naquele último momento, que ganhei de presente a reciprocidade de um simples ¨tchau¨, além de um sorriso, destes mais lindos dados por uma mulher, ou por uma mulher ainda tão moça.
E que vida é esta, dona de tantas conspirações para com os humanos...
E que vida irônica é esta, professora que usa das suas conspirações para ensinar lições a alunos atentos...
E que lição mais instrutiva e saborosa é esta, de mostrar que não existe apenas a chance ou o instante em que eu posso avistar um passarinho verde a qualquer momento, mas também mostrar a possibilidade de momentos em que eu posso muito bem ser avistado e observado por um, quando menos espero, da forma que menos espero.


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Na melhor das hipóteses, passarinhos verdes podem muito bem ser mais ariscos que a normalidade ou naturalidade da coisa.
Na pior das hipóteses, passarinhos verdes podem muito bem ser menos atentos que a normalidade ou naturalidade da coisa.
No que se trata de relações humanas, passarinhos verdes podem muito bem ser menos crentes que a normalidade ou naturalidade da coisa.
Um passarinho verde que todo dia segue a sua mesma rotina habitual de bom-dia.
Para o meu ânimo, sem exercer ou ir além daquilo que deve ser feito mesmo.
Para o meu desânimo, sem exercer nada que signifique uma criação, surpresa ou diferencial? Mesmo que seja por reação?
De repente, não importa, pois passarinhos verdes são admiráveis por algum motivo especial, e o comportamento ou o exemplo são destes motivos.
Que tal um bem-feito para demonstrar afeto, destes afetos que podem muito bem significar um gostar de coração...
Que tal um bem-feito para declarar através de um gesto aquilo que se pode tornar real ou concreto mesmo...
Que tal um bem-feito causando uma surpresa, destas surpresas que não são proporcionadas por qualquer um a qualquer momento, e que podem muito bem transformar o dia.
Que tal um bem-feito para provocar a ação de uma dúvida, esperando a reação de um questionamento sobre tal certeza.
Então, num destes belos dias de sol, enquanto estou completamente concentrado num serviço próprio, um passarinho verde chama a minha atenção, parado de frente à porta, coisa que jamais fora feito antes, e agradece o bem-feito com um lindo sorriso no rosto, destes que eu ainda não tinha visto de nenhum modo; com um ânimo surpreendente, daqueles que eu ainda não tinha percebido em nenhum modo; com a fisionomia que denota o ar de uma graça, destes ares que ainda não fora respirado. Um estado de felicidade radiante, ou que irradia felicidade.
Mas como todo passarinho verde arisco, desatento ou descrente, nos dias que se seguiram voltou a toda a rotina habitual de outrora, consistida no mesmo bom-dia seco e formal de sempre.
Eu, particularmente, tenho em meus achismos que passarinhos verdes, por incrível que pareça, também se utilizam de algumas coisas que são próprias dos humanos, em seus teatros cotidianos, como disfarces, por exemplo.

 

 

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Acaso, que certo alguém bem intencionado pode esperar de consciência limpa, leve e tranquila, cuja fortuna seja tomada pelo caso, conforme uma predestinação natural traçada.
Caso do acaso.
Acaso do caso.
Caso que aguarda um acaso.
Caso que necessita de um acaso.
Acaso que surpreende o caso.
Acaso do contentamento.
Alegria por um acaso.

Enlevação em que o acaso sublima toda a forma, podendo transformar tudo a qualquer momento.
Enlevação em que um acaso transforma tudo, por aquilo que se sabe, mas não se imagina o momento em que pode acontecer.
Um lugar que não era o objetivo, e nem eu precisava estar ali, parado, fazendo nada, esperando o que nem era obrigatório naquele instante, mas que resolvi procurar apenas por ter chegado muito cedo ao local devido, e ainda ter tempo considerável por aguardar.
Será que naquele ponto de ônibus, do outro lado da cidade, passaria um que me levaria de volta para casa, ou mesmo de volta ao centro da cidade pelo menos?
Encostada no ponto, com seu par de muletas necessárias, conversando com aquele que suponho seria seu pai, uma moça talvez pouco mais jovem que eu naquela época.
Encostada no ponto, com seu par de muletas necessárias, uma moça tão linda, destas belezas diferentes das outras belezas, por um encantamento raro, que não acontece com qualquer beleza que se vê por aí.
Encostada no ponto, com seu par de muletas necessárias, aquela moça que também percebeu minha presença, tão logo me encostei à parede, a poucos metros de distância.
Encostada no ponto, com seu par de muletas necessárias, então eu acabara de ver um passarinho verde.
Um encanto pode ser medido por tantos olhares trocados?
Quantos olhares trocados só para comprovar tal encantamento?
Um encanto que se dá por tantos olhares trocados.
Quantos olhares trocados para paralisar tudo.
Quantos olhares trocados tão próximos de transformar tudo.
Naquele momento eu só pensava em como ela era tão linda.
Naquele momento eu só pensava em como ela poderia ser tão linda daquele jeito.

O que eu mais queria naquele momento era dizer olhando nos olhos o quanto eu a achei tão linda.
Naquele momento, assim como uma palavra dada e assumida, assim como uma predestinação, havia a disposição de mudar todo o caminho, após ter encontrado o real e verdadeiro rumo de um sentido.
Dizer olhando nos olhos o quanto ela era linda, assim, simples e verdadeiro.
Tão simples e verdadeiro como atos de bom menino, que guarda apenas boas intenções na sua pessoalidade.
Vida conspiradora que trama nosso destino.
Vida conspiradora que observa nossos atos.
Vida conspiradora, que fez seu pai afastar-se por alguns instantes, quem sabe até o bar que existia próximo para comprar uma garrafa d’água ou uma lata de refrigerante...
Apenas daquele instante que eu mais precisava para, então, dizer de forma simples e verdadeira, olhando nos olhos, o quanto eu a achei tão linda.
Aquele instante em que minha idéia anuiu, mas que o corpo travou.
Um corpo físico completamente saudável, porém travado, paralisado; talvez deficiente pela ironia, cuja ausência naquele raro instante de muletas como metáfora poderia explicar o motivo de não ter cumprido com a sua simples atribuição física, anuída pela idéia daquelas coisas que se acreditam cada vez menos hoje em dia.
Aquele raro instante que passou sem o tal aproveitamento.
Aquela grande chance conspiradora que também passou quando seu pai retornou, e aquele tempo que eu tinha de sobra também acabou.
Daquela grande chance, daquele grande momento, daquele grande acaso, daquele grande encantamento, fica uma grande lição: a vida conspira, as pessoas é que falham.
 

 

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Muito medo de tudo aquilo que não seja um passarinho verde.
Pois para um homem perseverante que já traçou o seu destino tranquilo, nada melhor que manter-se a favor do vento.
Muito medo de ser uma tentação sedutora.
Destes conquistadores algozes, donos do perigo alheio, justamente pela minha iniciativa e provocação ao brincar com fogo e ilusão, a ponto de ser o responsável por estragar tudo.
Muito medo de uma perdição disfarçada.
Cúmplice do histórico que arrasta os dias; cúmplice na frequência de conflitos e discussões; senhor da vaidade de mau gosto; cúmplice do que se engana na cama à noite.
Muito medo da própria vaidade masculina.
Destas coisas que contam quantidade, ignoram qualidade.

 

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Quando eu vejo assim, objeto exposto, coisa exposta, íntimo demarcado, logo dá vontade de fazer a mesma coisa que os cachorros fazem pela rua, e nada mais que isto, e nada além disto. Puro instinto animal, sem qualquer admiração humana. Tão rápido quanto esquecimento sem saudade.
Quando eu a vejo assim, órgão resguardado, comportamento prudente, íntimo imaginado, logo dá vontade de fazer o mesmo que os anjos fazem, e tudo mais que isto, e tudo além disto. Puro instinto masculino singular, com admiração masculina singular. Tão considerável quanto lembrança marcante.

 

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Um jardim enorme.
Um jardim para passear um dia inteiro.
Um jardim para voltar no passado, sentir uma saudade, reviver um momento, vislumbrar um futuro, contemplar um sentido, acreditar...
Um jardim que agora guarda uma foto que existe.
Um jardim que guarda uma foto que não existe...
Eu procurei fotografar um passarinho verde naquele jardim, mas o passarinho verde não me deu oportunidade.
Nem tanto porque o passarinho verde não queria me dar uma oportunidade, mas porque o passarinho verde não fazia a mínima idéia da minha oportunidade.
O fato é que o passarinho verde andava lá na frente, entre os demais; passando rápido demais pelo local certo, rápido demais pelo momento certo, longe demais da pessoa certa?
Eu avistei um grande chafariz... Infelizmente...
Eu avistei palmeiras imperiais imensas... Infelizmente...
Eu avistei pedras ornamentais formando um castelo... Infelizmente...
Eu avistei um grande lago com vitórias-régias... Infelizmente...
Eu avistei muito verde intenso com o reflexo do sol... Infelizmente...
Eu avistei um banco de praça isolado entre dois bambuzais que convergiam entre si pelo alto, formando um arco de proteção, com a sombra contrastando a luz do sol numa auréola esplêndida de romantismo, tendo ao fundo como retaguarda lírica um gramado recheado de árvores...
Felizmente eu enquadrei toda aquela cena.
Infelizmente eu fotografei aquele banco de praça vazio, cuja forma poética, sentido emocional, possibilidade romântica, teria toda a sublimação com a presença do passarinho verde.

 

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Pelo meu capricho mais óbvio, ela me chama a atenção...
Nem tanto pela beleza que ela possa ter, assim como tantas outras também tenham a sua própria, mas pelo comportamento, que nem todas têm semelhante, aliás, que raras vezes tenho o prazer de observar e admirar atualmente, nestes tempos contemporâneos cada vez mais difíceis...
Talvez ela saiba da minha atenção, pois seus olhos já perceberam...
Num dia desses ela passa toda de preto, de frente com meus olhos, longe de qualquer ação...
Vestida de preto fica um espetáculo.
Nem tanto porque ela deve gostar de preto, mas principalmente porque eu achei um espetáculo.
Disto ela não sabe, mas poderá saber um dia, se uma oportunidade propícia for criada, de repente, por ambas as partes...
Um passarinho verde pode ser arisco, mas a metáfora precisa ser recíproca, mais cedo ou mais tarde. De preferência mais cedo, antes que um sentido se perca pelo vazio, que não faça mais sentido no tempo.

 

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Quando minha pretensão masculina, suficiente e orgulhosa, se aliar a uma vontade instintiva e incontrolável e achar que, assim, estou interessado de verdade por uma mulher, minha razão humilde e serena já reconheceu num dia tranquilo o entusiasmo de uma paixão, e mostra que esta paixão em gostar de uma mulher é apenas o segundo passo para tal sentido, sendo no total três; caminho nem tão longe de trilhar, nem tão condicional para tolher, muito menos sentimental de assumir, tendo como o terceiro e último atingir o ápice da substância, ou seja, o amor próprio de querer amá-la de coração; calmaria e confiança em passar a protagonizar um filme cotidiano em que se misturam arte real e certeza visionária.


Conteúdo desta página totalmente pessoal, próprio, particular, subjetivo, introspectivo, autoral, característico, original, ou seja, tudo meu. :)